Compreendendo a necessidade de estratégias contra o consumo de álcool pelo paciente com câncer
Compreendendo a necessidade de estratégias contra o consumo de álcool pelo paciente com câncer
Só uma bebida! Esse é o começo de todo alcoólatra, independentemente de idade, sexo e classe social.
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), mais de 140.000 pessoas morrem todos os anos nos Estados Unidos devido ao consumo excessivo de álcool (380 mortes por dia). Cerca de 13% da população norte-americana envolve-se em bebedeiras pesadas pelo menos uma vez por ano. Além disso, sugere-se também que a maioria dos bebedores pesados começa a beber já na infância e na adolescência. Um estudo feito anteriormente mostrou que, nos Estados Unidos, 23% dos adolescentes (de 12 a 20 anos de idade) bebiam regularmente, 10% estavam envolvidos em consumo episódico de bebidas, 2% eram bebedores pesados e 6% apresentavam transtorno por uso de álcool. Os padrões de consumo de álcool também variam de acordo com o sexo e a orientação sexual. Embora se saiba que, em geral, os homens sãoe bebedores mais pesados do que as mulheres, taxas mais altas de consumo de álcool foram registradas entre lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais.
O consumo de álcool caracteriza-se como o principal risco de câncer e tem sido associado a cânceres do trato aerodigestivo superior (cavidade oral, faringe, esôfago, laringe), que envolve tecidos que entram em contato direto com o álcool. O uso de álcool também é apontado como fator de risco de câncer de mama, fígado e cólon. Evidências sugerem que, quanto maior o número de doses ingeridas e quanto maior a duração do uso de álcool, maior o risco de câncer, particularmente o de cabeça e o de pescoço. E essa associação independe do tipo de bebida alcoólica. O risco de câncer devido ao uso de álcool aumenta ainda mais com o tabagismo, especialmente nos casos de cânceres de pulmão. Além disso, tabagismo e álcool em pacientes com câncer, principalmente oral e orofaríngeo, estão associados à osteorradionecrose da mandíbula. Para os pacientes, sabe-se que o consumo de álcool, mesmo após o diagnóstico da doença, aumenta as taxas de hospitalização, retarda a recuperação e eleva o risco de mortalidade específica por câncer. Sobreviventes de câncer das vias aéreas e digestivas superiores que continuam consumindo álcool têm risco três vezes maior de desenvolver segundos tumores primários.
Embora haja evidências limitadas sobre o impacto da cessação do álcool no risco de câncer, estudos feitos até agora sugerem que o risco de câncer das vias aéreas e digestivas superiores diminui em indivíduos que param de beber, em comparação com aqueles que não o fazem. Embora o etanol existente no álcool, por si só, não seja prejudicial, é o metabolismo do etanol em acetaldeído que oferece o risco de câncer, pois o acetaldeído é um agente mutagênico e carcinogênico conhecido. Esse aldeído é geralmente eliminado por meio de uma enzima chamada acetaldeído-desidrogenase tipo 2. No entanto, uma variante genética da forma inativa dessa enzima, comumente vista nas populações do leste asiático, resulta em acúmulo excessivo de acetaldeído no organismo e confere maior suscetibilidade ao câncer. O estresse oxidativo induzido pelo álcool piora ainda mais a doença, em decorrência do aumento da inflamação.
Embora mais de 40 países em todo o mundo contem com diretrizes sobre o consumo de álcool, a Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês), a Sociedade Americana do Câncer (ACS) e o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) dos Estados Unidos recomendam não mais do que uma ou duas doses de bebida alcoólica por dia para todos os homens adultos e não mais do que uma bebida por dia para mulheres adultas. O Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo (NIAAA) sugere 14 g de álcool puro como dose padrão, o que equivale a 355 ml de cerveja e 148 ml de vinho. Infelizmente, os alcoólatras estão bem longe dessas medidas. Essa falta de conscientização e de conhecimento entre o público e os médicos e as percepções errôneas associadas ao consumo de álcool em certas comunidades dificultam a abordagem dessa questão candente.
Para tratar disso, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) sugeriu as seguintes diretrizes para fornecer e apoiar melhores estratégias de saúde pública contra a exposição ao álcool:1
- Devem ser impostas restrições ao álcool para menores de idade (legalmente a idade para consumo de álcool é inferior a 21 anos) e evitar que os jovens sejam influenciados por anúncios de bebidas alcoólicas.
- Os profissionais de saúde devem ter o direito de rastrear pacientes e mulheres grávidas sob risco de transtornos por uso de álcool. Deve-se oferecer aconselhamento e orientação a pacientes para que se abstenham do álcool.
- O licenciamento dos pontos de venda é uma das estratégias importantes para prevenir o alcoolismo. A regulação da densidade dos pontos de venda de bebidas alcoólicas diminui o número de pontos de venda e, consequentemente, o consumo. Outra estratégia importante apoiada pela ASCO é a imposição de pesados impostos sobre bebidas alcoólicas.
- As estratégias de controle do álcool devem fazer parte dos planos abrangentes de controle do câncer. Pesquisas e estudos devem ser usados como arma contra o consumo de álcool e, assim, apoiar o controle do câncer.
- É necessária uma mudança maior na indústria. A ASCO exige a eliminação de pinkwashing, ou seja, o uso da fita cor-de-rosa nas propagandas de bebidas alcoólicas. A imagem, que contrasta com as evidências, não deve ser utilizada em anúncios publicitários que promovam o álcool.
A carga de câncer será reduzida se o consumo de álcool estiver sob controle. Um profissional de saúde e um oncologista podem influenciar e educar os pacientes sobre os efeitos colaterais do álcool, a destruição de estilos de vida e os riscos de câncer. Somente quando os oncologistas e clínicos gerais se transformam em conselheiros, o abuso de álcool pode tornar-se coisa do passado. Prevenir é melhor do que remediar!
Referência bibliográfica
1. LoConte NK et al. Alcohol and cancer: a statement of the American Society of Clinical Oncology. J Clin Oncol. 2017;36:83-93.
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