Caracterizado pela proliferação clonal de células da medula óssea, o mieloma múltiplo pode ser tratado de forma eficaz se detectado precocemente. Vários esquemas terapêuticos têm sido sugeridos. No entanto, a eficácia e a tolerabilidade desses medicamentos, juntamente com a resistência ao tratamento desenvolvida com o tempo, continuam sendo um desafio.1 A combinação de dexametasona com inibidor de proteassoma, como bortezomibe (Velcade®), tem sido usada em vários estudos que abordam o mieloma múltiplo recidivante e refratário. Um artigo recentemente publicado sobre o SWOG S0777, estudo randomizado de fase 3, de acompanhamento de longo prazo, realizado pelo Southwest Oncology Group e pela National Clinical Trials Network (NCTN), demonstrou como  a combinação bortezomibe mais lenalidomida mais dexametasona pode ser usada para tratar de forma eficaz pacientes com diagnóstico recente de mieloma múltiplo.2

O estudo foi realizado com 460 pacientes adultos portadores de mieloma múltiplo recém-diagnosticado e com doença mensurável (de acordo com os critérios CRAB, em que C significa níveis elevados de cálcio, R insuficiência renal, A anemia e B envolvimento ósseo).

Os pacientes foram inscritos entre 2008 e 2012 e receberam 8 ciclos de 21 dias de bortezomibe (1,3 mg/m3, por via intravenosa, nos dias 1, 4, 8 e 11), lenalidomida (25 mg, por via oral, uma vez por dia, nos dias de 1 a 14) e dexametasona (20 mg, por via oral, nos dias 1, 2, 4, 5, 8, 9, 11 e 12) ou 6 ciclos de 28 dias de lenalidomida (25 mg, por via oral, uma vez por dia, durante 21 dias) e dexametasona (40 mg, por via oral, uma vez por semana).

Os resultados ao final de 7 anos dessa terapia de indução demonstraram que a combinação tripla de bortezomibe mais lenalidomida mais dexametasona foi mais eficaz do que a combinação dupla de lenalidomida mais dexametasona, já que apresentou aumento da sobrevida livre de progressão (41 meses versus 29 meses; p=0,003), melhor sobrevida global (não atingida aos 84 meses versus 69 meses; p=0,0114) e melhor duração da resposta (50 meses versus 39 meses; p=0,0175).

Observou-se benefício adicional em pacientes que não receberam nenhum transplante, bem como entre os que não eram candidatos a transplante, após o tratamento com a combinação tripla de bortezomibe mais lenalidomida mais dexametasona, em comparação ao outro grupo. Verificou-se também o benefício adicional em indivíduos mais jovens (<65 anos de idade) após a terapia com a combinação tripla de bortezomibe mais lenalidomida mais dexametasona.

Os pacientes tratados com a combinação tripla, de bortezomibe mais lenalidomida mais dexametasona, apresentaram melhor taxa de resposta global (TRG), de 90,2%, e melhor resposta parcial muito boa (RPMB), de 74,9% ou mais, em comparação aos que receberam a combinação dupla, de lenalidomida mais dexametasona (78,8% e 53,2%, respectivamente), conforme mostra a tabela 1.

Tabela 1. Taxas de resposta em pacientes avaliáveis

Embora os perfis de segurança dos dois grupos de tratamento fossem semelhantes entre si, mais pacientes do grupo de combinação tripla, de bortezomibe mais lenalidomida mais  dexametasona (34,6%), apresentaram eventos adversos neurológicos, em comparação aos tratados com a combinação dupla, de lenalidomida mais dexametasona (11,3%). Assim, o estudo demonstra que a terapia combinada de bortezomibe mais lenalidomida mais dexametasona é benéfica e tem perfil de segurança tolerável no mieloma múltiplo recém-diagnosticado.